A Iniciativa Cinturão e Rota

Uma Análise da Estratégia Chinesa e sua Relação com o Brasil

4 DE DEZEMBRO DE 2023
A Iniciativa Cinturão e Rota

Nesta segunda edição, apresentamos ao público um resumo da história da Rota da Seda e dos recentes desenvolvimentos da Iniciativa Cinturão e Rota, que completa 10 anos em 2023. Ademais, analisamos a estratégia chinesa a partir de determinadas áreas-chave e fazemos algumas recomendações para os governos do Brasil e da China, no que concerne à relação entre os dois países. Neste Guia, nosso intuito é esclarecer dúvidas, acabar com mitos e propor mais debates sobre a Nova Rota da Seda, fomentando pesquisas futuras sobre o tema e, acima de tudo, impulsionando discussões públicas sobre a China.

SUMÁRIO

  • Introdução
  • Rota da Seda Verde: Premissas e concretizações
  • Contextualização da Rota da Seda Verde a partir da sua construção retórica
  • As Rotas da Seda ambientais e seu escopo
  • Iniciativa Cinturão e Rota e sua Abordagem Verde
  • Rota Polar e Rota Marítima Norte
  • Infraestrutura verde: Fontes renováveis e inovação
  • Hidrogênio verde
  • Energias solar e eólica
  • Finanças verdes
  • Histórico normativo
  • Sujeitos e mecanismos envolvidos: Arquitetura financeira
  • Rota da Seda Digital e inovações tecnológicas
  • 5G, comunicação de alta velocidade e satélites de comunicação
  • Cidades inteligentes
  • Blockchain e pagamentos digitais
  • Inteligência artificial
  • Comércio eletrônico
  • Rota da Seda da Saúde e cooperação Sul-Sul
  • Internacionalização do RMB, Financeirização da BRI e Bancos de Desenvolvimento
  • Promoção cultural da Iniciativa Cinturão e Rota
  • Lusofonia e a entrada do Brasil na Nova Rota da Seda
  • Recomendações
  • Referências

Introdução

Em pleno funcionamento entre 130 a.C. e 1453 d.C., a Rota da Seda impactou imensamente o mundo. Com origem na China durante a dinastia Han, referido conjunto de rotas serviu para conectar a Ásia, o Oriente Médio e a Europa e, mais que isso, para acelerar o desenvolvimento de produtos e serviços, dinamizando trocas comerciais entre variados povos e influenciando as relações político-econômicas e socioculturais entre eles. Sem dúvida, teve um papel primordial na história de diversas sociedades, seja por ter disseminado artigos como seda, pólvora e papel, seja pelo fato de seu encerramento ter ensejado a época das grandes navegações europeias.

Séculos depois, em 2013, o presidente chinês Xi Jinping promoveu um verdadeiro resgate histórico e, de maneira ambiciosa, propôs a criação da Nova Rota da Seda, ou, oficialmente, do Cinturão Econômico da Rota da Seda e da Rota da Seda Marítima do Século XXI, que, juntos, configuram a Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês). De maneira similar à Rota da Seda original, a BRI, inicialmente, visava a promover a conectividade entre países asiáticos, europeus e africanos. Contudo, desde a Segunda Reunião Ministerial do Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), ficou claro que a América Latina passou a ser considerada uma extensão natural da Rota da Seda Marítima do Século XXI e participante indispensável na cooperação internacional da BRI (CELAC, 2018).

Indo além de uma expansão meramente geográfica, a Iniciativa Cinturão e Rota ganhou novos ares ao longo dos anos com o lançamento da Rota da Seda Digital, da Rota da Seda da Saúde, da Rota da Seda Verde e da Rota da Seda Polar. A partir de suas cinco prioridades – coordenação de políticas, conectividade de infraestrutura, comércio desimpedido, integração financeira e intercâmbio entre os povos – e de mecanismos bilaterais e multilaterais, a BRI tem a intenção de facilitar e de incentivar a cooperação ganha-ganha e o desenvolvimento comum, reforçando a compreensão mútua e a confiança entre os atores da sociedade internacional (República Popular da China, 2015).

De fato, segundo o documento “Visão e Ações na Construção Conjunta do Cinturão Econômico da Rota da Seda e da Rota da Seda Marítima do Século XXI” (República Popular da China, 2015), a iniciativa é guiada pelo “Espírito da Rota da Seda”, tendo como fundamentos primordiais a paz e a cooperação, a abertura e a inclusão, a aprendizagem mútua e o benefício mútuo. Com foco em questões relacionadas à infraestrutura, tanto tradicional (como portos, aeroportos e ferrovias) quanto nova (5G, big data e tecnologias verdes), ela tem o potencial de contribuir para a redução do gap de infraestrutura que existe no mundo inteiro. A correlação entre capacidade de infraestrutura e crescimento econômico não é nova (Banco Mundial, 1994), porém o déficit em investimentos nessa área permanece: somente no Brasil, estima-se que o país precise de investir R$3,7 trilhões nos próximos 10 anos (BNDES, 2023).

Considerando as potencialidades na iniciativa, até novembro de 2023, 148 países assinaram um Memorando de Entendimento com a China e juntaram-se à BRI: 44 na África Subsaariana, 35 na Europa e Ásia Central, 24 na Ásia Oriental e Pacífico, 21 na América Latina e Caribe, 18 no Oriente Médio e Norte da África, e seis no Sudeste Asiático (Nedopil, 2023). Além disso, de 2013 a 2022, a China investiu e realizou contratos com um total de aproximadamente 950 bilhões de dólares em países da BRI (Nedopil, 2023). Nesse contexto, e com base no documento “A Cooperação Internacional para o Desenvolvimento da China na Nova Era”, pode-se afirmar que o conceito de “comunidade de destino comum para a humanidade”, a prática da cooperação Sul-Sul e os objetivos constantes na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) são aspectos fundamentais para se compreender a BRI (República Popular da China, 2021).

Em 2023, a Nova Rota da Seda completa 10 anos de existência, e, como o documento “A Iniciativa Cinturão e Rota: Um Pilar-Chave da Comunidade Global de Destino Comum” (República Popular da China, 2023) e o “Terceiro Fórum do Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional” dão a entender, a BRI continua sendo uma das principais estratégias de política externa chinesa. Dessa forma, é primordial que essa iniciativa seja não só desmistificada, mas também mais bem compreendida pela sociedade e pelo governo do Brasil (que ainda não é signatário), além do setor privado e das organizações sociais atuantes no país, a partir de olhares brasileiros que levam em consideração a historicidade chinesa e a crescente relevância do Sul Global nos debates associados às relações internacionais.

Leia a versão completa aqui.

As opiniões expressas neste artigo não refletem posição institucional da Observa China 观中国 e são de responsabilidade autoral.

Editado por Karel Pianez .

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